
Eu estava voltando da paulista, era começo de noite por volta das 18:30. Descendo a brigadeiro próximo ao parque Ibirapuera o ônibus começou encher, eu com muita sorte já tinha conseguido sentar “confortavelmente”, na ultima fileira, onde os bancos são mais altos em cima do motor, normalmente não sento ali, é quente, o ar ficar ruim pra ser respirado, mas escolher ali ou ficar em pé no apertado, prefiro o bafo quente do motor com o ar frio vindo pelas janelas.
O ônibus estava apinhado, mal dava pra se mexer, a face das pessoas pareciam estar tão longe daquele aperto sufocante, porém ficava claro que ninguém conseguia notoriamente se sentir satisfeito com aquele clima, e com aquela situação, o aperto, o calor e ares mais que respirados uns pelos outros; quem já andou de ônibus superlotado sabe do que estou falando.
E assim fomos seguindo o fluxo devagar do transito, eu, aquele transporte, os passageiros em pé acachapados, e as próximas horas anunciando mais e mais aquele vai e vem de carros. E aí fomos seguindo pela Av Santo Amaro, chegando ao borba gato, o sinal foi dado e no ponto as pessoas começaram a descer, descer e descer, mas um rapaz, branco, de óculos, magro, com espinhas ao rosto ficou para trás, e antes dele pegar os degraus a porta se fechou e o ônibus continuou a partida, ele querendo gritar “Vai descer” sabe-se lá porque mas acondicionado por algo, gritou baixo “vai descer”. Claro o motorista e o cobrador não ouviram aquele gritinho covarde. Porém uma moça ao seu lado que não vi o rosto, firme e bem alto, gritou: VAI DESCER!! Na hora o motorista brecou forçando todos a irem um pouco pra frente, abriu-se a porta e o rapaz desceu. Aquela moça o salvou de perder a descida no seu ponto, ela nem o conhecia, e ele nem a ela, mas mesmo assim ele rapidamente como num instinto natural gritou! Talvez ele teria que caminhar muito, não sei, mas ele ficou feliz, sorriu, agradeceu e foi-se embora ao seu destino!
Vi aquela cena e pensei: quantas vezes somos salvos(as) por outros, às vezes passamos do ponto e alguém vai lá e grita por nós. Não sei porque aquele rapaz não conseguiu gritar, talvez tenha sido a timidez, porque ele ficou tão vermelho! Mas quantas vezes passamos do ponto e alguém instintivamente grita pra nós e por nós? Quantas vezes por muitos motivos não conseguimos nos auto salvar ou nos auto socorrer? Sabe, sinceramente? Sempre vamos precisar de alguém que talvez tenha que gritar: Vai descer! E aí vem aquele alívio, ufa, ele(a) me salvou! E depois? Ah, eu só posso lhe dizer: Como é bom sermos salvos! E melhor ainda...É bom demais, pertencermos a criaturas recíprocas em nos ajudar, e mais profundamente falando, em nos acolher com amor! Eu ainda acredito no ser humano, e vou pra sempre acreditar, mesmo que ainda alguem me diga que "é melhor lidar com gado do que com gente", ou por mais que as pessoas sejam tão obscuras e complexas em muitas situações, o que vejo é real; somos todos iguais, somos todos seres humanos! Ser não acreditarmos no bem de quem estar ao nosso redor em quem vamos buscar ajuda? Agora ouça-me bem. Se você não tiver fé no seu próximo? Cuidado, um dia você poderá precisar de que alguém grite por você, Vai descer! Imagine você ter que caminhar tanto porque alguém lhe faltou com amor...